Nova poética (Manuel
Bandeira)
Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
Poeta sórdido:
Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.
Vai um sujeito,
Saí um sujeito de casa com a roupa de brim branco muito bem engomada, e na primeira esquina passa um caminhão, salpica-lhe o paletó ou a calça de uma nódoa de lama:
É a vida
Poeta sórdido:
Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.
Vai um sujeito,
Saí um sujeito de casa com a roupa de brim branco muito bem engomada, e na primeira esquina passa um caminhão, salpica-lhe o paletó ou a calça de uma nódoa de lama:
É a vida
O poema deve ser como a nódoa no brim:
Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.
Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.
Sei que a poesia é também orvalho.
Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas, as virgens cem por cento e as amadas que envelheceram sem maldade.
Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas, as virgens cem por cento e as amadas que envelheceram sem maldade.
Hoje
não se revela mais nada: é tudo digital
Na
foto, tudo é lindo
Está
tudo arrumado
Não
há mais negativo
Ficam
todos positivos...
E
a vida segue: uma topada ali
Uma
nódoa de lama acolá
E a vida segue,
mas
ninguém vê a lama
ou
finge que não vê
ninguém
quer a lama
e
finge o que não crê.
Mas
se o poeta é um fingidor
Eu
também vou entrar numa
De
correr, moldar o corpo
Ser
a bela do diário
Que
perfuma o seu armário. (Luciene
Sant’Ana)
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