De repente, eu sobrei
É o fato. É o caso.
Eu sobrei desde aquele tempo
Do cansaço adiado
No equívoco do sentimento.
Eu sobrei não como parafuso ou comida
Não como o tempo que não temos de sobra
Num domingo de manhã
A segunda é fecunda
e guarda a linha tênue
Entre a vítima e a vilã
Eu tentei, entre as duas, o meio, mas não deu
Preparei o jornal: ninguém leu
Mas isso não é um fracasso!
Desde o começo, todo filme insinua
O seu surpreendente fim...
Mas o controle remoto caiu no chão
O filme passou, o chuvisco não veio
Quem hoje ainda chega perto da TV para desligá-la?
Quem me guardará do grito em vão dado na sala?
Nem Paris, nem Londres, nem Florença, nem Veneza
É preciso que primeiro eu, em mim, me reconheça
Não como aquela senhorita,
errante, no subúrbio,
ali reticente,
cosmopolita...
Hoje é tudo programado, on line , a distância
e para esse recomeçar nada como no sofá
dormir, sonhar com a infância...
Para esse recomeço do mesmo filme
Mudam-se os móveis, a casa, o cabelo
A posição de se assistir como um crítico
Muda-se o zelo...
Porque segundo a igreja, a cabala, os raios que me partam, a psicossomática, o Feng Shui
Tudo influi. (Luciene Sant’Ana)
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