A vida do poeta tem um ritmo diferente(...)
Ele é o etemo errante dos caminhos
Que vai, pisando a terra e olhando o céu
Preso, eternamente preso
pelos extremos intangíveis" (Vinícius de Moraes, do poema "O poeta")

segunda-feira, 30 de abril de 2012

Eu também queria ter uma bomba

                          

                          "Eu já nem sei se eu tô misturando/Ah, eu perco o sono”

                                                                                                                           (Dé, Bebel  Gilberto e Cazuza)

Eu preciso perder vinte quilos: de medo, de indisciplina, de auto-depredação da confiança,
da mania de me entupir de aspirina para sarar a dor

Vinte quilos de preconceito, de preguiça, de palhaçada,

Dessa mania de ficar na calçada quando aparece uma flor...

Perder vinte quilos: da minha auto-exploração   infantil,

da rabugice de não achar graça das piadas

De todo dia  primeiro de abril...

Eu também  queria ter uma bomba

Um flit paralisante qualquer

Sem me esquecer da rosa, estúpida e inválida

Mas  meu coração é novo

E eu nem li o jornal...

Nem bebo um pouquinho pra ter argumento

Não sei andar no Centro

Da cidade da madureza

Da minha real idade.

Eu queria me chamar Tereza

Me esbaldar no Guanabara

E depois  ficar só na praia

e não ser de ninguém...   
  



             " Mulher sem razão, saia dessa vida de migalha...sonhar só não dá em nada/ é uma festa na prisão”(Cazuza)

domingo, 29 de abril de 2012

Figura (Eu mesma, a própria mulher de areia...)

Essa música do Orlando Morais...é linda demais! Mulheres de Areia, saudades de ti, nas férias!


     Figura

              (Orlando Morais)

A mim não importa ser a sombra
quando você é a figura
ser a situação quando você é o assunto

Eu nasci pra estar ao seu lado
mesmo se não estamos juntos
e é por isto que quando gritas
permaneço calado
como o sol determina
retrato falado, meu pé de laranja lima
mas  somos assim como um desenho
talvez reflexo e refletor

Você, as imagens que tenho
as que quero
as que tenho amor

sábado, 28 de abril de 2012

Ser Patrícia ou ser poeta? Eis a bandida...


queria ser bonita como a Patrícia

mas como ser bonita e ser poeta?

o dia só tem 24 horas...

o sol não dura mais que um dia

e o metabolismo, nosso amigo,
(com o tempo, que beleza, fica mais lento!)

e a cozinha, a escova, a maquiagem,

a apostila, a dieta, a sala, a cabeça,  o diário,

tá tudo uma bagunça do salário...!

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Despertar é preciso

Eu preciso aprender muito com esse poema ... atribuído ao poeta Maiakóvski:


Na primeira noite eles aproximam-se e colhem uma Flor do nosso jardim e não dizemos nada.

Na segunda noite, Já não se escondem; pisam as flores, matam o nosso cão, e não dizemos nada.

Até que um dia o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua e, conhecendo o nosso medo, arranca-nos a voz da garganta. E porque não dissemos nada, Já não podemos dizer nada.

(Obs: O poema não é de Vladimir Maiakóvski)
Eduardo Alves da Costa

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Right here, right now


Tá tudo bem...!

Teu carro corre a mais de cem

Você cresceu e contornou

A curva sinuosa do teu show


Dê um mergulho, escute o barulho

Da água sorrindo para você na piscina

Hoje o seu lugar ao sol é aqui,

É bem dentro de casa, menina!


Sendo assim, por que esse medo

De perder quem você ama?

De ter segredo, de ter pecado?

A vida não é uma passagem?

Não se detém o apagar(ou acender) da chama

(é próprio da raça humana...)


É assim com todo mundo

Da Madonna  a  Dona Maria,

Seja rico ou seja pobre

Todo risco sempre vem...


Então vá tratar de viver

Sob a proteção do esquecimento

Do tempo que não para , a vida é agora

E  o que não tem remédio cessa com o tempo.

Um prosa nada poética


MEU CAROS COLEGAS PROFESSORES da rede municipal, NOSSOS PROBLEMAS PODEM ACABAR!

Recebi na escola, gentilmente cedida pela prefeitura, “A nova gramática do português contemporâneo” do Celso Cunha e Lindley Cintra. Meu Deus! Quanta saudade da faculdade! Todo formado em Letras que se preze, oriundo de uma boa faculdade, tem essa “bíblia” em sua biblioteca doméstica. Assim como de outros eternos catedráticos Evanildo Bechara e Rocha Lima; e de louváveis gramáticos e linguistas sucessores desses respeitáveis(sem ironia) especialistas. Como dizia o inesquecível professor Carlos Alberto Short: “ São altos estudos linguísticos.” Como eu era feliz e não sabia...

Mas voltando ao Celso Cunha, será que a SME não sabia que já tínhamos essa gramática...e que prestamos um concurso? Acho que não. Haja vista as apostilas também fornecidas, elaboradas por linguistas, que parecem não conhecer nem  a sauna nem a arena da sala de aula. E o curioso é que as apostilas dão um “chega pra lá” na gramática, condenando de vez a disputa desleal  de nossos alunos nos concursos da vida.   As apostilas foram classificadas como uma "grande inovação na política educacional"! Uau! Chegamos até a nos emocionar. Afinal, ninguém pode dizer que não  “tentaram” aprimorar nossos conhecimentos, melhorar nossas aulas com” estratégias” que possibilitem “resgatar a auto-estima”  e  “seduzir” nossos alunos. Tenha a santa paciência!

Meu fascínio pelo nosso idioma e sua literatura é verdadeiro. De outra lamentável parte, também verdadeira é a desolação que sentimos pelo abismo que separa nossa formação acadêmica do real(ou seria ilegal e imoral?) exercício de nossa profissão. Estamos nós mesmos, sendo obrigados a  cassar  nosso próprio diploma a cada ano letivo  passa.

Tenho sugestões mais eficazes para compor a biblioteca do professor, que nos serão de grande valia para a nossa sobrevivência, a saber:

1.     “Novo manual prático  dos carceireiros contemporâneos”;

2.     “Novo manual prático dos policiais sem fardas e sem  armas contemporâneos;

3.     “Novo  manual prático dos psiquiatras contemporâneos”;

4.     “Novo manual prático dos domadores de leões contemporâneos”;

5.     “Novo manual prático dos aplicadores de cinto de castidade contemporâneos”(pois se houver alunas grávidas na rede estadual, a escola perde pontos perante à Secretaria);

E por fim, o “Novo manual prático para usar óculos em 3D contemporâneo”. Esses são vitais porque nos fazem olhar o rei nu e enxergar as roupas dele lindas! Se bem que há quem não precise desses óculos...e sinceramente os admiro!

Diante disso, tive uma brilhante idéia : recorrer às Organizações Tabajara. Quem sabe essa salvadora organização que soluciona as  causas mais difíceis e bizarras, possa nos oferecer esse precioso material pedagógico. Um material que nos garanta um futuro com o mínimo de lucidez às novas gerações  do nosso Brasil varonil!

P.S 1- Há outros manuais também imprescindíveis de que não me recordo no momento .  Aceito sugestões.

P. S 2- Também, acho que fui meio ingrata...vamos dar um desconto. A gramática dada é “de acordo com a nova ortografia, implementada pelo Acordo Ortográfico de 1990, em vigor no Brasil a partir de janeiro de 2009”. Que novidade!

sábado, 21 de abril de 2012

quinta-feira, 19 de abril de 2012

As novas roupas do imperador



Afinal quem se curva diante do imperador?

Há quem diga que no Japão,  todos

Menos  o professor

Há quem diga que é uma meia verdade

De um para o outro e vice-versa

Rodo o Google,  nosso “mestre” de hoje

E não se esgota essa conversa. 

No Brasil, a pedagogia moderna

Tapa, com a peneira, o sol da baderna

Esse sol,(ainda é  o astro rei?)

É testemunha do que(não) ensinei. 

Porque  o professor é um engessado,

Não sabe seduzir os alunos

É ultrapassado...

Só sabe gritar e reclamar

Com pobres rimas,

Pobres não,  “paupérrimas”,

 uma palavra que nem mais se  ensina,

 assim como “enciclopédia”. 

Mas também quem mandou

você  enxergar o rei nu?

É bem feito! É  por isso que alunos te  mandam
Na lata da Coca, trocar a vogal
 Lá bem no final de Bangu... 

Quem mandou insistir no texto e relutar nesse triste contexto?

- É  pra copiar? Poxa, você veio?

-Ah! Tire uma  licença, professor!

 mais divertido e sedutor

-Ser  poposuda ,  chutar uma bola, ter uma BMW...

-Faça-me o favor! 

-Pare de rimar no meu ouvido

-E seja finalmente doutor

Para não se curvar  diante da blitz

Com  roupas  mágicas  de  imperador!






quarta-feira, 18 de abril de 2012

PÃES BARATOS

Chovendo, entrei na padaria

 e de repente...um relâmpago!

A tal da promoção!

-Vamos aproveitar e comprar um monte, pra fulano, pro trabalho, pro café, pra amanhã

Pra semana inteira...

Mas...

Pão só é bom quando fresco!

Pode-se esquentá-lo

Conservar em geladeira...

Mil receitas de pudim, torrada, truques pra durar e se transformar...

E a gente se engana: ficou bom mesmo! 

Mas aí, já não é mais  pão...a química aconteceu
E não aproveitei
de fato a promoção
Como aqui, mastigando   versos
neste requentado coração.

ELA(EU) POR VOCÊ

Se ela me ama , é claro que ela

Apóia o que eu digo, canto, obrigo


É claro que ela (em) casa comigo

Me ouve os relatos, me tira os sapatos

Inventa desculpas, perfuma o ar,

Acorda mais cedo, desvenda o segredo,

Inventa o retrato da minha coleção.


Se ela me quer, é claro, mulher,

Menina, senhora,

Esquece nos bancos bilhetes, demoras,

Prepara a manhã

Enquanto no frio, esguio, passeio

Sou homem de lã.
 

Se ela me abraça, no fio do possível

Não dou conta, não dou graça

De ser ali o seu mundo,

O sangue, a carne,

A criatura em segundos

Revestida de amor, na perfeição do criador


Se sou o seu par

Quem vai duvidar?

Quem vai lhe salvar e entorpecer o destino

O destino que adia

Pra essa menina, em mim o menino.

A QUARTA DE CINZAS


nessa quarta de cinzas
tenho que fugir da Fênix correndo atrás de mim
a Fênix que puxa meu braço,
me tira do voo, me rouba a recompensa
de todo meu cansaço...
essa ave lendária pousa em mim nesse dia
me tira o sono,
me tira a folga
das dúvidas e promessas
e me sacode com força: - O ANO COMEÇOU!

AGORA É COM VOCÊ...
OS SEUS PECADOS, SEUS RECADOS NÃO DADOS,
SEU ZELO E EXAGERO,
SUA LETRA TREMIDA,
SEU MEDO DA VIDA E DE GERAR OUTRA VIDA 
É PRECISO QUEIMAR...

AH, MAS VOCÊ JÁ AMOU
VOCÊ  VIAJOU,
VOCÊ NÃO PERDOOU...
SERÁ QUE VOCÊ VOLTOU?

PRENÚNCIO DO IMPOSSÍVEL




A chuva cai e leva o dia

O dia em que pensei em ter:

Você

Poder

Malícia

Insanidade.



Quem será testemunha desse nosso crime?

Ninguém. Não há alma viva capaz de entender

O silogismo da compaixão

Esse de não sermos nós assim concebidos

No mito babilônico da criação

Esse se sair de si e retornar

Às grades estéreis da convenção.



Hoje um homem só autorizou a guerra

E a mulher que sou não sabe lutar com armas- quimeras

Químicas, físicas, psicológicas.



A chuva cai o vento vem e o sol amanhã

É a saudade que eu sinto

Do desconhecido em mim

De ser só luz (sem lua à noite como rival)

De ofuscar os olhos de quem me veja

De esquentar a pele de quem me tenha.

LIMITE


Poemas pequenos

Poemas pungentes

Podem ao pé da poesia

Parar.


PARALELOS


Paralelos da noite

Paralelos que dançam

Não levem as crianças

Sozinhas ao doce



Paralelos que perturbam

Nossas sombras e gestos

Se somos como vós:

Telepatas Amantes



Paralelos meninas

Paralelos meninos

Paralelos, o meu amor e o teu



Para mim, lê-los

Para ti, pará-los

Paralelos, para nós , para sempre.   


O PERDIDO




Tenho medo da Atlântida

Tenho medo de me confundir com ela

Algumas regras básicas não apreendo

e fico presa na minha própria garganta



No dia em que te vi do alto ventava

e não havia nada de novo: tu na metáfora da vida

e o resto sem cogitar a morte



Que morte? Do desejo insano,

da árvore condenada,

da menina que ficou na sala eternamente chorando

sem água para beber, para tomar banho

de cheiro, mineral, viva



Por isso tenho medo da Atlântida

De me perder...

Eu que sou continente

Tu que és conteúdo.   

Beijo de menina


                                      
De um beijo assim

deveria ficar tudo: sabor, calor, furor, bactéria,

frisson dentro do peito, pulsando na artéria. 


Por um beijo assim

o tempo deveria parar: o trânsito, o relógio, o vento

Qualquer dor ou movimento,

A rotação,

 a translação. 


Como um beijo assim,

Vejo as nuvens da janela,

Com formas de bicho, caprichos de estrela,

Boneca de menina com medo de perdê-la...


Esse beijo assim, perdido no caminho,

Se amparando em rimas,

Como um diário de meninas

Na lembrança, no lamento

Será que ele existiu?

 Ou eu é que invento?

Minha cachorrinha Mel....

                                   MEL
                                       
                                                   (para minha rabuda do pantanal)

Quanto tempo vivi sem provar tua doçura
de tantos males esqueço
ao ver tua figura...

Cada  gesto, olhar,
carinho teu, é tudo tão  puro
e o animal em mim tão inseguro
ampara-se na tua pureza...
pois fraca, vil e torpe é a humana natureza.
"Catar feijão se limita com escrever(...)
nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente." (João Cabral de Melo Neto)