A vida do poeta tem um ritmo diferente(...)
Ele é o etemo errante dos caminhos
Que vai, pisando a terra e olhando o céu
Preso, eternamente preso
pelos extremos intangíveis" (Vinícius de Moraes, do poema "O poeta")

quinta-feira, 28 de junho de 2012

Pegando o próximo retorno...

Chega um dia em que você não tem mais a quem pedir conselho
Se não a si mesmo
em que você não tem mais como pedir análise, opinião
se não a si mesmo
em que você já não tem mais "todo o tempo do mundo" para deixar a decisão pra  amanhã
em que já se esgotaram as perguntas, os prazos, a tolerância dos atrasos
aquele momento em que nos vemos numa ponte entre o fio frágil e duro da vida e as consequencias tão mensuradas e que, por fim, não são, não dão em nada,
por quê, pra quê? Uma falta não é um pecado mortal
Dane-se tudo, etc e tal... eu não sou  o "arquiduque",
apenas essa metida à besta "lenta vírgula rastejante"
que morre de dor de cabeça...
Os celulares,  essas "células", também não tem que se recarregar?
aquela triste constatação de que ao pó voltaremos...
E parece que todos são mais fortes e superiores a você...
E entre essa certeza e a obrigação de viver,
você se machucou, se  matou à toa...
se esqueceu de que é só uma pessoa...

Chega um tempo em que nem um poema te salva do afogamento
E o que se faz nesse momento?
O próximo retorno...talvez seja o caminho...
E o que dirá meu Deus, meu juiz?
(um dos piores poemas que já fiz)   (Luciene Sant'Ana)

sexta-feira, 22 de junho de 2012

Amor e seu tempo (Drummond)




Amor é privilégio de maduros estendidos na mais estreita cama, que se torna a mais larga e mais relvosa, roçando, em cada poro, o céu do corpo. 
É isto, amor: o ganho não previsto, o prémio subterrâneo e coruscante, leitura de relâmpago cifrado, que, decifrado, nada mais existe. 
valendo a pena e o preço do terrestre, salvo o minuto de ouro no relógio minúsculo, vibrando no crepúsculo. 
Amor é o que se aprende no limite, depois de se arquivar toda a ciência herdada, ouvida. Amor começa tarde. 
Carlos Drummond de Andrade, in 'As Impurezas do Branco

domingo, 17 de junho de 2012

Sobrado

De  repente, eu sobrei 
É o fato. É o caso.
Eu sobrei desde aquele tempo
Do cansaço adiado
No equívoco do sentimento.

Eu sobrei não como parafuso ou comida
Não como o tempo que não temos de sobra
Num domingo de manhã
A segunda é fecunda
e guarda a linha tênue
Entre a vítima e a vilã
Eu tentei, entre as duas, o meio, mas não deu
Preparei o jornal: ninguém leu

Mas isso não é um fracasso!
Desde o começo, todo filme insinua
O seu surpreendente fim...
Mas o controle remoto caiu no chão
O filme passou, o chuvisco não veio

Quem hoje ainda chega perto da TV para desligá-la?
Quem me guardará do grito em vão dado na sala?

Nem Paris, nem Londres, nem Florença, nem Veneza
É preciso que primeiro eu, em mim, me reconheça
Não como aquela senhorita,
errante, no subúrbio,
ali reticente,
cosmopolita...

Hoje é tudo programado, on line , a distância
e para esse recomeçar nada como no sofá
dormir, sonhar com a infância...

Para esse recomeço do mesmo filme
Mudam-se os móveis, a casa, o cabelo
A posição de se  assistir como um crítico
Muda-se o zelo...
Porque segundo a igreja, a cabala, os raios que me partam, a psicossomática,  o Feng Shui
Tudo influi.         (Luciene Sant’Ana)



quinta-feira, 14 de junho de 2012

Esse papo meu já tá de manhã...


Quando agora esse papo já tá qualquer coisa


De frente para o poço,
eis o empurrão:
uma canção 'luval" de Chico
do mundo que caiu e
parece que ninguém viu...

eu fico surpresa, eu fico...
como ainda
consigo dizer algo,
ainda que tosco,
nesse furico? (Luciene Sant'Ana)

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Poema sem título (Manoel de Barros)

Difícil fotografar o silêncio.
Entretanto tentei. Eu conto:
Madrugada, a minha aldeia estava morta. Não se via ou ouvia um barulho, ninguém passava entre as casas. Eu estava saindo de uma festa,.
Eram quase quatro da manhã. Ia o silêncio pela rua carregando um bêbado. Preparei minha máquina.
O silêncio era um carregador?
Estava carregando o bêbado.
Fotografei esse carregador.
Tive outras visões naquela madrugada. Preparei minha máquina de novo. Tinha um perfume de jasmim no beiral do sobrado. Fotografei o perfume. Vi uma lesma pregada na existência mais do que na pedra.
Fotografei a existência dela.
Vi ainda um azul-perdão no olho de um mendigo. Fotografei o perdão. Olhei uma paisagem velha a desabar sobre uma casa. Fotografei o sobre.
Foi difícil fotografar o sobre. Por fim eu enxerguei a nuvem de calça.
Representou pra mim que ela andava na aldeia de braços com Maiakoviski – seu criador. Fotografei a nuvem de calça e o poeta. Ninguém outro poeta no mundo faria uma roupa
Mais justa para cobrir sua noiva.
A foto saiu legal. (Manoel de Barros)

domingo, 10 de junho de 2012

Desamor

(os desamores: aos leões. às favas. até porque ninguém é obrigado a ninguém)

Se eu tivesse um violão e te tocasse
Todo som extraído seria uma forma mágica pra
você desaparecer

Assim: voluntariamente desmaterializado
ao te desfolhar inteiro, sem vestígios
contemplar o alívio do meu desprezo,
desse não-querer-saber-de-ti. Se morri?
É verdade, ou melhor, morreu a outra
Em mim mais tímida, mais pálida, mais líquida.

Essa morreu por água abaixo,
 a cada banho, a cada chuva

Vou convocar todos os cães
Para ladrarem em teu portão
E em te vendo, te mordendo
Pela paixão comprimida, pela ferida provocada
Por milhares de partículas, pelas migalhas negadas

Que teu corpo para mim
 já foi banquete negado
Agora leiloado a outra forma
 mais sublime e inconsistente de desamor.     (Luciene Sant'Ana)

sábado, 9 de junho de 2012

Nada no bolso ou nas mãos...eu vou. Por que não?

A gente nasce cheio de marra:

Chorando, amparado, gracinha na cara

Depois dorme e brinca, meu lindo bebê

Depois a gente cresce cheio de amarras:

Chorando, amparando a vergonha na cara

Depois acorda e trabalha, seu tosco idiota!

Você veio aqui , me responda pra quê?


Assim quem me dera ser “irracional”

Aí eu seria, de fato, sensacional...

Na medida, sensata, certeira, sagaz
afinal, como dizem "o menos é mais"

Um ser puro e doce

Sublime e mudo

Superior a tudo. (Luciene Sant'Ana)


(Meus dois bebês!)

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Desafio cumprido na "Quadrilha" de Drummond

Putz, não encontrei um poema meu pra isso; só Drummond pode me socorrer na delicadeza da situação...a vida é mesmo como a "Quadrilha" de Drummond: ingrata, fora do tempo e do espaço.

Lutar com palavras /é a luta mais vã./Entanto lutamos/mal rompe a manhã./São muitas, eu pouco./Algumas, tão fortes/como o javali.
Não me julgo louco/Se o fosse, teria/poder de encantá-las./Mas lúcido e frio,/apareço e tento/apanhar algumas/para meu sustento 
num dia de vida.(...)/
Palavra, palavra/(digo exasperado),/se me desafias,/aceito o combate.(...)/Cerradas as portas,/a luta prossegue
nas ruas do sono.(Drummond, do poema  O LUTADOR)

 Que honra! Quem me dera ser metade disso tudo mesmo...entendi a interpretação! Atendi ao desafio? Obrigada pelo carinho.

Ela Não Se Parece Com Ninguém
                                          (Zeca Baleiro)
Ela não é igual a gata que eu vi na Lapa/Tão leve que aos olhos de ninguém escapa/Sambando gostosa num samba tão bom/Nem é como a mina linda linda que dá medo/De copo na mão na Mercearia São Pedro/De pé na calçada brilho de neon/Ela não é como a moça que eu vi na Savassi/Que para o tempo mesmo que ele passe/E arrasta os olhares por onde ela vai/Nem é a guria esperta que zanza no bric
De Redenção casual mas tão chique/Cantando baixinho baby light my fire/Ela não se parece com ninguém/Ah quero ela eu a quero bem
E sinto que ela me quer também/Ela é linda linda linda linda/Tanto tanto que eu ainda/Como um São Tomé que já crê/Quero pagar pra ver/Ela não é como a menina que vi no Jurerê/Curvas sinuosas e jeito blasé/Que até os ambulantes distraem o olhar/Nem se parece com a loura morena de Aldeota/Iracema Barbie de jeans e de bota/Os olhos vermelhos do azul do mar/Ela não é a bonita do Batel no Babilônia
Uma dose de vodca outra de insônia/Atriz misteriosa de um filme noir/Ela não é a baiana bela do Beco do França/De papo cabeça cabelos e trança/Suingue fricote axé saravá



Gostei dessa bobagem também! Aí Flavia! A formatação vc faz depois?


SEPARADOS POR UMA SUPER FASHION SOBRANCELHA E 23.765.458 CASOS RESOLVIDOS!














(Faltou a formatação decente que eu não sei fazer!) kkkkkkk

quinta-feira, 7 de junho de 2012

Gostei desse troço! (Minhas criações!)







                                                  uma piada mal contada "do complexo de Jocasta?"






                                                                               CONCURSADA?





Com licença poética, Creepy Wonka!

Aí Ju, essa parceria é nossa!!!!

terça-feira, 5 de junho de 2012

Por tudo que for (Lobão)




E depois,
A luz se apagou
E eu não consigo mais ficar sozinho aqui
Sem você é tão ruim, não tem sentido, prazer
Não há nada
Por favor,
Não me interpreta mal
Eu não queria nem devia te magoar
O vento vem, o tempo vai
Passa por mim meio assim, meio assim devagar
vou dormir sentindo
O que a solidão pode fazer
Há um ser ferido, por saber que o erro era meu (2x)
(só meu)
Já passou,
Agora já passou
Mas foi tão triste que eu não quero nem lembrar
Ver você, ter você
E querer mais de nós dois não tem nada demais
E pensar
Você aparecer
Pela janela tão bonita de manhã
Vem pra mim e não vai mais
Me abraça, me abraça, me abraça
Por tudo que for...
Ouh ouh ooouuuhhhh


segunda-feira, 4 de junho de 2012

Avulsos

(Essa é do baú...eu devia ter uns quinze anos...)

                                                         Avulsos 


                        "Tá sozinha, tá sem onda, tá com medo/Seus fantasmas, seu enredo, seu destino/Toda noite uma imagem diferente/Consciente, inconsciente, desatino/A maior expressão da angústia/Pode ser a depressão/Algo que você pressente/Indefinível /Mas não tente se matar/Pelo menos essa noite não." (Lobão)


Os homens que são comuns querem pernas alegres
Mas passeiam em  escadas tristes de muletas

Já vai para meia-noite no teu presídio
Todos se recolhem e se preparam para
Morrerem amanhã

Mas pra mim a liberdade  também  não é um sonho fácil.
Ultimamente, tenho visto o sol quadrado
Tenho criado leis internas
Tenho inventado outra moeda
Tenho convivido com estranhos  
Tenho visto muros imensos e cadeados implacáveis
Tenho chorado na noite
Tenho colado fotos em paredes
Tenho contado dias na folhinha
E tenho me mostrado firme para os veteranos de plantão. 

É mais fácil amar em armário
Escrever palavras vivas, imprecisas
Que não chegam a ouvidos de ouvir

É mais fácil polir 
Esses ecos superiores
paradoxalmente projetados por pessoas não-amadas.  (Luciene Sant'Ana)


sexta-feira, 1 de junho de 2012

Temporada das Flores (Leoni)



Eu passei um tempo andando no escuro,/Procurando não achar as respostas,/Eu era a causa e a saída de tudo,/E eu cavei como um túnel meu caminho de volta./Me espera amor que estou chegando,/Depois do inverno a vida em cores,/Me espera amor nossa temporada das flores./Eu te trago um milhão de presentes,/Que eu achava que já tinha perdido,/Mas estavam na mesma gaveta,/Que o calor das pessoas e o amor pela vida...




"Tudo é relativo"

Leoni, maravilhoso!

"A ciência confirma os fatos/Que o coração descobriu/Nos seus braços/Sempre me esqueço
De tempo, espaço e no fim.../Tudo é relativo/Quando te fazer feliz/Me faz feliz/Se a história for/Sempre assim/ Melhor pra mim..."