A vida do poeta tem um ritmo diferente(...)
Ele é o etemo errante dos caminhos
Que vai, pisando a terra e olhando o céu
Preso, eternamente preso
pelos extremos intangíveis" (Vinícius de Moraes, do poema "O poeta")

domingo, 14 de outubro de 2012

O continente perdido em seu conteúdo



Tanta teoria esquecida
Tanta luta renhida
Tanta voz perdida
No inverso da lida


Tantos suspiros, chamadas
Por Deus...vontade de sair, correr, chegar...
ser o primeiro a medir
para forças nos dar: 
sem armas, sem farda
para na guerra fria(?) lutar.

Médico sem remédio, 
Sem (in)formação, sem letra ilegível
Padre, delegado, alemão
Marciano, ET, dirigível. (Luciene Sant’Ana)

domingo, 23 de setembro de 2012

Jogo de damas e cartas marcadas


                              

Às vezes o casamento
Não está na mesma casa do seu momento...
Às vezes é só um lamento
Outras vezes é preguiça de voltar
Porque tudo o que foi deu trabalho
Tudo o que valeu,
foi penoso...
E aí  embaraçoso será
reverter a ordem do baralho. (Luciene Sant'Ana)

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Novíssima poética


Nova poética (Manuel Bandeira)

Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
Poeta sórdido:
Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida.
Vai um sujeito,
Saí um sujeito de casa com a roupa de brim branco muito bem engomada, e na primeira esquina passa um caminhão, salpica-lhe o paletó ou a calça de uma nódoa de lama: 
É a vida
O poema deve ser como a nódoa no brim:
Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero.
Sei que a poesia é também orvalho.
Mas este fica para as menininhas, as estrelas alfas, as virgens cem por cento e as amadas que envelheceram sem maldade.


Hoje não se revela mais nada: é tudo digital
Na foto, tudo é lindo
Está tudo arrumado
Não há mais negativo
Ficam todos positivos...
E a vida segue: uma topada ali
Uma nódoa de lama acolá

E  a vida segue,
mas ninguém vê a lama

ou finge que não vê
ninguém quer a lama
e finge o que não crê.

Mas se o poeta é um fingidor
Eu também vou entrar numa
De correr, moldar o corpo
Ser a bela do diário
Que perfuma o seu armário.  (Luciene Sant’Ana)

sábado, 11 de agosto de 2012

Esses signos linguísticos que nada significam

Piscina e Aquário
Que façanha estranha
Essa troca etimológica do imaginário

Piscina genuína é para peixe
Feito o homem, íntegra a gente
Mas no aquário, ao contrário
No pé presa, essa corrente.

Essas águas passadas
Que não movem moinho
Nem de março nem de agosto,
São pedras no caminho...
  
Não posso me afogar
Nem morrer pela boca
No aquário insensato
Ou na piscina oca.       (Luciene Sant’Ana)

quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Nada que te comprometa

Nada que te compre ou meta
Numa enrascada
Nada que te compre a meta
De subir a escada
Antes que você cometa
A compra da enrascada
Da palavra descabida,
Delirante,
Concreta
Poesia comprada,
repetida, descabida
cumpre a meta 
predileta   (Luciene Sant'Ana)

Constatação




(ESSE É DO BAÚ...)


Todos os poemas estão cansados de minha vontade
de ser grande
e minhas palavras são tão baratas
que muitas vezes as assassino com pancadas de chinelos

Para morrer basta fechar os olhos
E refletir a tua matéria cósmica nalguma sombra

Vou entrar em igrejas como padres alegres
Como mães em formatura de filho
E como sangue quimicamente parecido com a água do mar.



quarta-feira, 18 de julho de 2012

Modinha

Tuas palavras antigas
Deixei-as todas, deixeia-as,
Junto com as minhas cantigas,
Desenhadas nas areias.

Tantos sóis e tantas luas
Brilharam sobre essas linhas,
Das cantigas — que eram tuas —
Das palavras — que eram minhas!

O mar, de língua sonora,
Sabe o presente e o passado.
Canta o que é meu, vai-se embora:
Que o resto é pouco e apagado.

(Cecília Meireles)